domingo, 3 de maio de 2009

O Monólogo das Pernas

Respeite minhas pernas. Essas que me levam ao banheiro, ao quarto, que me trouxeram trabalho. Essas analfabetas de alma, pálidas e cabeludas... Por causa delas, os meus braços são roxos de queimados e minha face, branca, bronzeada, parda, como me confundem lá fora. As minhas pernas também trabalham, são escravas das minhas necessidades, da minha pobreza, da minha pacimônia...

Elas me quebram o galho, são meu transporte... Meu principal meio de transporte. Por elas, prefiro não passar vexame nos ônibus públicos e entender como tantos aleijados sonham (e como sonha!) com pelo menos uma. Às vezes reclamo até das dores que elas me causam, devido uma longa caminhada que faço, pode ser numa tarde, e que me economiza o dinheiro da passagem. Com minhas pernas, já troquei idéias, conheci cidades, apreciei as paisagens, fui narcizista, fiz sexo, conheci mulheres. E até desabafei a raiva nos objetos jogados no chão, na terra...

Às minhas pernas eu também me entrego, não por serem minhas servas ou eu por elas. Mas por serem minhas e eu delas.

Um comentário:

luiz caju disse...

Gostei da idéia.
(hauehauiehaiu)