sábado, 23 de agosto de 2014

Dentro de um apartamento

Tem um pedaço de mim no passado
O melhor dos passeios, os anseios,
A coragem,
Mas o meu nascituro parece mentira
Dentro de um apartamento que serve de refúgio
À rotina, à dúvida, ao futuro que vem e vai
Igual ao passado.

No medo da escolha, na incapacidade dos acertos
Nesse jogo de tentativa e erro
Prevalece a esquizofrenia que já toma conta
Do seu pedaço em algum pedaço da minha cabeça.
É uma quase tortura a solidão, as vontades,
A capacidade de fazer tudo verdade
Jogada na lata do lixo.

Livros, delírios, drogas,
Tudo isto já não basta...
A vida é bem mais real que isso.
E eu aqui preso a um monte de desejos,
De verdades. Pensar demais é perigoso, cansa...
É como caducar hipóteses até que se torne vítima
Da própria caduquice.
Enquanto isso, a vida segue passando bem na minha frente.

Perde-se o medo do escuro, do mundo do outro lado da rua
Da vida e da morte, aprende-se melhor a gastar dinheiro
A ganhá-lo e a compreender que ele se faz presente
Na sua suficiência, para bem além do que se pensa.
Mas, de que adianta mobília, segurança, bugigangas,
Pares de tudo o que nos calça os pés e as mãos
Se a vida não passa de uma prisão
Dentro de um apartamento?

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