domingo, 24 de agosto de 2014

Meio mel

Havia de falar que antes mesmo das minhas pontas longas, dos meus cachos enrolados, que assistiam cada história nova parecia sentir nada. Antes disso tudo, era como se tudo fosse um vaco, era o que pensava; pensava que assim seria d'ali p'ra frente. Mas eu quebrei a cara. Ainda que ainda bem! Quebrei, porque foi ao todo contrário. Daquelas que não batem na cara. Daquelas que fazem tirar o chão debaixo e tornar tudo uma queda livre, que, quando se cai, de tão forte o ardor, não se sente a pancada.

Eu ainda 'tava com o cabelo grande, mais ou menos como naquela vez que te vi, por acaso, me assistindo tentar fazer sucesso ao acaso. Segurei cada ponta até que me desse conta de que tudo era mais que uma trilha, um monte de passos ou um caminho que parecia meio em falso. Como um chão coberto por tacos, de madeira, em que eles, de repente, se soltam e a gente tropeça, meio que ao acaso...

Até que fui chamado um pouco mais de perto. Tinha oferecido carona um pouco antes, mas por um sei lá do acaso, fiquei com cara de intruso, de visita indesejada. Passou! Agora, é muito mais do que um simples acaso. É verdade, daquelas que não ardem e que acontecem.

Há pouco pensei, várias vezes, que estudei um pouco mais p'ra dar o melhor de mim, agora mesmo. Mas eu tinha que dizer... Tenho que dizer que tudo faz sentido; vontade de estar perto, deitar sobre qualquer grama, ter uma praça inteira, cheia de gente, como se existisse mais ninguém, além de 1 + 1.

Uma sala de cinema lotada por apenas dois, com a melhor lista de filmes. E, bem à minha frente, um par de olhos castanhos claros, meio mel de absinto, cabelos lisos, de castanhos a meio loiros, iguais aos que jamais havia visto antes, uma série de gestos que me põem a olhar p'ra ti sem intervalos... Um cheiro que fica em cada peça de roupa minha, mesmo horas depois de já estar em casa.

Eu me lembro a todo instante de cada gesto teu, de cada vez que tua fala entra em sincronia com o conjunto do teu eu ou coisa assim.

Entenda, é de ti mesmo que 'tou falando. É que todos os dias, de um tempo p'ra cá, têm sido assim...

Originalmente em: 07 / 01 / 2011

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