quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Tia Fátima (Tio Herivelto)

Esta semana, a primeira de dezembro de 2024, foi pra esquecer. 2024 jaz a lista de anos pra serem esquecidos, ainda que lembrados lá na frente. O nosso organismo, vivo, tende ao bom da nostalgia que nos reserva. Sempre, os bons momentos, os melhores, prevalecerão em nossa mente. Esta semana, ainda que bem triste, bem pesada, me restou à boa lembrança que levarei pelo resto da vida do lindo e acolhedor sorriso daquela que, não pelo sangue, mas, pela escolha, minha mesmo, fez-se minha tia. Salvou meus vários dezembros, desde muito tempo, vários natais e reveillons quase perdidos, na minha concepção de que era responsabilidade de um dos lados do restante da minha família, materna e paterna, a tarefa de me garantir o melhor mês do ano feliz. Ledo engano à epoca. Hoje, cabe sempre a mim. Mas, eu, menor de idade, criança, adolescente, não via muita escolha, senão, contentar-se com o que viesse ou sobrasse. Sobraram vários natais chatos e reveillons mais ou menos. Anos após, eu realmente fui feliz no meu momento favorito de todos os anos. Quem não gosta do mês de dezembro? Quem com perfil acadêmico não se encanta com uma bela cidade iluminada, presentes, festas, reuniões e reencontros com pessoas as quais se gosta tanto? Ainda lá atrás, mesmo adorando sobre tantas coisas o mês de dezembro, aprendi a apreciar o transcorrer e os fatos surpresas que a vida me presenteava (ou me desagradava) no correr do ano. Mas, justo com estranhos, com pessoas afora do sangue, dos meus primeiros dias de vida, de outro seio, reaprendi a apreciar o fim do ano. O mês de dezembro. As festas natalinas, o estouro de fogos. Fátima foi minha tia por escolha. Uma das pessoas mais lindas que conheci. A melhor amiga da minha mãe. Mãe dos meus três melhores amigos. Conterrâneos, todos. Que por uma imensa coincidencia, passaram a integrar os fatos e acontecimentos mais importantes de nossas vidas. Eu tive muita sorte. Tivemos muita sorte. Temos. Por que vivemos com essas pessoas. Contamos com elas. Pudemos contar com ela. Com a Fátima. Desde aquela correspondência entregue por engano ou por um erro de uma torre, mesmo que destinada ao apartamento de mesmo número lá no centro da maior cidade do centro-oeste brasileiro, talvez por tratarem-se de duas famílias nordestinas em terras estranhas que detestam essa (nossa) gente, esse engano, esse erro, foi, talvez, o maior acerto da vida daquele funcionário lá daquele condomínio onde morávamos bem 40 anos atrás e onde todos nos conhecemos. Carregamos essa dívida! 10 de dezembro de 2024... Uma data que me ensinou o medo da perda, a dor de perder, a diferença do som de uma voz, um olho aberto, de um olhar direcionado, de uma visita inesperada. Era com puro amor na forma de alegria que recebíamos, ainda que inesperadamente, as dezenas, centenas, de visitas inesperadas, sem aviso prévio mesmo, da tia Fátima, do tio Herivelto, do Guilherme, do Braulio e do Artur. Foram momentos incríveis com essas pessoas incríveis. Com a Tia Fátima incrível (e tudo aquilo que a gente viveu será sempre incrível). Tudo teve que ser bem dessa forma, bem daquela forma...